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Tempo dentro

Elenize Dezgeniski, 2021

Escolho um lugar do quarto para instalar o tripé e a câmera. Encontro um ângulo. Ajusto os obturadores da câmera e da janela. Defino o tempo de exposição para oito segundos. Tiro a roupa. Aciono o disparador, corro para a cena e exploro o espaço da cama dentro de um enquadramento e tempo definidos. Encontro lugares, coreografo os pontos de movimento e paradas. Imprimo o corpo no espaço, na permanência. Repito os movimentos como quem dança. O corpo movendo-se tende a desaparecer. Tudo o que é estático fica mais nítido, brotando volumes. Já não lido apenas com um corpo, componho múltiplos de um mesmo corpo. Nesta altura sou pelo menos três, incluindo o olho por trás da câmera. Possibilidades narrativas surgem. Oito segundos, um pouco sonho, um pouco acordo. Amplio o tempo de exposição para dez segundos. Tudo o que se move tende a desaparecer? Fecho os olhos e imagino os carros nas estradas, os trens, as pessoas que perambulam pelas ruas. Tudo o que respira oscila? As gotas de chuva, o azul distante das montanhas. O calor no asfalto borrando a paisagem. Território de movências íntimas, caminho para dentro do tempo.

*Tempo dentro integra a dissertação de mestrado intitulada “Mensagens de ligações perdidas”, defendida em julho de 2022 na UDESC.

Menção honrosa - Prêmio Acadêmico Udesc de Fotografia, 2021.

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